Depois de três dias de travessia e de uma noite de descanso, chegou a hora de mais montanha.
Dessa vez, o escolhido foi o Escalavrado, imponente montanha ao lado do Dedo de Deus. Desde 2015, quando passamos pela BR-116 e vimos esse conjunto de montanhas, nasceu a vontade de escalar nessa região. Depois de 10 anos sonhando, finalmente chegou o dia.
Acordamos cedo, tomamos café da manhã em uma panificadora e, sem demora, partimos para o início da trilha. Após cerca de 30 minutos caminhando pela beira da BR, chegamos à entrada, que já nos primeiros metros se mostrou desafiadora: subidas muito íngremes e bastante exposição.
Caminhamos cerca de 15 minutos até chegar ao primeiro grande desafio: atravessar de um lado ao outro de um trecho horizontal, com um precipício logo abaixo. Para nossa sorte, encontramos um grupo que também estava subindo o Escalavrado. Sem hesitar, ofereceram ajuda e usamos a corda deles para vencer esse obstáculo. Pessoal extremamente gente boa, cariocas de Guapimirim. Boas conversas, e acabamos nos juntando a eles na subida.
Por cerca de uma hora conseguimos acompanhá-los, mas o ritmo deles era mais forte que o nosso e logo seguiram à frente.
Um passo de cada vez, uma subida por vez, fomos vencendo os desafios. Ao nosso lado já era possível ver a outra face do Dedo de Deus, montanha que ocupa o topo da nossa lista de sonhos. Seguimos subindo, porém cada vez mais lentos: subida muito forte, calor intenso e percebemos que estávamos com pouca água, o que nos obrigou a racionar.
Em vários trechos era necessário o uso de cordas, tornando a progressão ainda mais cansativa e lenta. Sabíamos que o desafio ainda estava longe do fim, pois as partes mais expostas e difíceis ainda estavam por vir.
Foi então que vimos um montanhista descendo a montanha. Para nossa surpresa, era o Luciano, de Guapimirim, o mesmo que encontramos no início da trilha.
O que aconteceu em seguida foi, sem exagero, um dos gestos mais incríveis que já presenciei em todos os meus anos de montanhismo.
O Luciano já estava quase no cume, mas ficou preocupado conosco e decidiu voltar para nos ajudar. Que ser humano iluminado Deus colocou em nosso caminho. Com extrema atenção e paciência, ele nos conduziu pelos trechos mais difíceis, sempre com um cuidado especial com o Luquinhas. Emprestou equipamentos, deu dicas valiosas e, de subida em subida, de corda em corda, fomos vencendo os obstáculos.
| Luciano guiando o Lucas |
Mais à frente, reencontramos o restante do grupo do Luciano. Todos foram extremamente atenciosos conosco. E assim, depois de cerca de 5 horas, conseguimos chegar ao cume do Escalavrado.
As lágrimas vieram aos olhos. Uma mistura de sentimentos:
— Acima de tudo, gratidão a Deus por viver aquele momento ao lado do meu filho Lucas e do meu grande amigo e irmão Luís.
— alegria por finalmente estar ali depois de tantos anos sonhando;
— profunda gratidão pelas pessoas incríveis que encontramos no caminho;
— admiração pelo gesto do Luciano;
Ficamos um bom tempo no cume, tiramos muitas fotos, conversamos bastante e trocamos experiências de montanha com nossos novos amigos — ou, como diz o querido Oswaldo Vivas: “melhores amigos que ainda não conhecíamos”.
Depois de nos alimentar, iniciamos a descida, já sabendo que não seria fácil. Havia ainda um agravante: nossa água tinha acabado.
Descemos todos juntos:
Luís, Lucas e eu,
Luciano, Oswaldo, Isaías, Marcos e o restante da turma.
A descida exigiu muita cautela. Em vários pontos foi necessário o uso de cordas e até rapel.
A sede começou a apertar e não havia nada ali que pudesse nos ajudar.
Foi então que me lembrei de uma conversa que tive com o Luís dias antes, sobre a água da chuva acumulada nas bromélias. Olhando ao redor, percebemos que o caminho estava repleto de bromélias gigantes. Paramos e fomos verificar.
Mais uma bênção de Deus naquele dia.
Havia água — e não era pouca. Em uma única bromélia era possível encher duas garrafas de 500 ml, água limpa e fresca, já que havia chovido no dia anterior. A alegria foi imensa. A partir dali, tivemos água em abundância até o final da trilha. Acredito que, ao todo, conseguimos cerca de 10 litros de água das bromélias ao longo do caminho.
Lucas e uma das Bromélias salvadoras
Descida após descida, seguimos juntos e, já quase no escuro, chegamos ao final da trilha. Cansados, sim — mas com a certeza de que aquele havia sido um dos melhores dias de nossas vidas.
Caminhamos pela BR até o carro e ainda tivemos a honra de dar carona aos nossos amigos. Fomos até Guapimirim, onde ficamos mais um tempo conversando e tomando uma boa cerveja.
Encerrando este relato, agradeço primeiramente a Deus, por tantas bênçãos nesse dia.
Agradeço ao meu filho Lucas e ao meu irmão Luís, pela companhia de sempre.
Agradeço imensamente ao Luciano, por ter voltado para nos ajudar.
Ao Oswaldo Vivas (do canal Programa Cidadão Natureza) e ao seu filho, ao Isaías, ao Marcos e a todos pela parceria.
Montanha é isso: desafio, humildade, amizade e gratidão.
Por: Josimar Cubis
Mais algumas fotos:
| Guapimirim ,visto do cume do Escalavrado |
| Rio De Janeiro Capital ,visto do cume do Escalavrado |
Uauu! Que aventura!!! Parabéns, Josi e Lucas e que venham mais desafios!!!
ResponderExcluirHelen Moedinger